quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

    Faltam apenas 5 dias para o final do ano de 2012 e alguns pouquíssimos já se passaram desde a chegada do verão. Confesso que a vinda do calor me deixa em um estado de espírito radiante. Da mesma forma que o sol emana seus raios de luz, assim também meus olhos emanam raios. Esses raios já não sei do que se constituem, mas digo que o são. 
   Porém, há que sempre haver um porém nesses emaranhados de viver, porém, juntos com os raios de sol vêm as gotas de chuva que muitas vezes não se tratam apenas de delicadas e reluzentes gotículas refrescantes, mas de rajadas nervosas que não encontram espaço nos subterrâneos e acabam por fazer cortejos e passeatas pelas ruas da cidade, muitas vezes até invadindo casas e lojas, não se sabe se em caráter de protesto ou por puro vandalismo.

    E de repente faz-se uma guerra climática que nos localiza nesse espaço e tempo de 2012, dizem que fim dos tempos quando o aquecimento global endoidece as estações e essas começam a guerrear entre si. O sol traz o calor, a chuva traz o frio e a umidade, o sol seca a umidade e esquenta novamente para daí então a chuva molhar. E em meio a essa guerra, meu organismo como os de muitos desse século 21, acometidos pelas pragas modernas, ou seria melhor dizer contemporâneas pois o moderno já é passado, sendo uma dessas pragas ou males as reações alérgicas. É nesse ponto que meu nariz deixa definitivamente de funcionar, se tornando até mesmo um estorvo nas atividades cotidianas. Durante o ano ainda era possível algumas regalias com esse órgão como umas boas respiradelas e a capacidade de diferenciar os sabores ao comer um brigadeiro e um doce de leite. Mas em meio a essa guerra climática, devo me limitar a respirar pela boca e me contentar em comer um chocolate pelo simples prazer de o sentir derretendo em minha língua e, sabendo que é um chocolate de altíssima qualidade, posso utilizar minha memória olfativa, já com defeito há muitos anos, para tentar tornar o ato degustativo um pouco mais feliz.
   Eis aí que tudo na vida é uma faca de dois gumes. A chegada do calor me traz imensa alegria, mas ao mesmo tempo tira um de meus sentidos. (Convenhamos, o menos importante). Acho que seria melhor agradecer por perder o olfato e não a visão, e ficar feliz por poder distinguir um punhado de sal de um punhado de açúcar. Já se for açúcar branco ou açúcar mascavo, infelizmente não o poderei fazer. Mas como a alimentação é feita para dar energia ao corpo e não para nos esbaldarmos em excessos gastronômicos, descobri aí um terceiro gume dessa faca cósmica. Pelo menos, um dos ditos pecados não cometerei com tanta voracidade como uma pessoa portadora de todos os seus sentidos. Com um pecado a menos, um passo a mais nos caminhos da sabedoria.

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