terça-feira, 11 de setembro de 2012

Mariana por Mariana

Aí vai um das antigas...


                                
Mariana por Mariana

Para Alessander Peri

            “Oi!
            Meu nome é Mariana; e eu estou louca...”
            Mariana é uma cidade cheia de figuras inusitadas. Pessoas estranhas nos param na rua para conversar. Não se sabe de onde vêm ou para onde vão, elas simplesmente vêm e vão. E nos olham e nos param e nos enchem. Talvez por loucura ou simpatia ou solidão.


            A lua vista de Mariana é maior e mais amarela porque são muitos anos de antiguidade e muitos transeuntes prosadores para guardar. E são muitos fantasmas, espectros, ruídos para revelar. E também, também são muitos poetas para a ela amar.
            Mariana não é uma cidade bonita, é uma cidade judiada. Judiada pelo tempo, pela chuva, pelo mofo, pelo homem. A sua gema é bonita. É judiada, mas é bonita. O resto é judiado e feio.
            As figuras exóticas também estão em Ouro Preto, bem próxima, bem. Estávamos na rua e vimos uma mulher usando vestes do século 18. Ficamos curiosos com a moça, achamos que ela iria participar de algum teatro de rua, mas não. Ela passou por nós e foi embora. Remoendo-nos de curiosidade, fomos atrás dela. E ela andava normalmente pela cidade segurando sua sombrinha acima da cabeça; e olha que não estava fazendo sol. Já com a curiosidade nas gargantas, abordamos a mulher e perguntamos: “moça, por que você está vestida assim?” E ela respondeu: “porque esse é o meu modo de me vestir, eu me visto assim todos os dias. Não estamos em uma cidade do século 18? Então nada mais óbvio que se vestir como no século 18, não é? E convenhamos, é muito mais bonito. Bom, deixa eu ir que tenho que passar no banco.” E, bom, ela usava um tênis do século 20, iria usar o caixa eletrônico, e aposto que ela toma banho de chuveiro elétrico.
            Mariana quase não tem marianenses. Tem muitos estudantes e muitos turistas. Mas conhecer alguém que nasceu e cresceu em Mariana é coisa difícil. Pelo menos pra mim. Mariana não é berço, é via de passagem.
            Mariana tem estudantes e um deles mora comigo. E estava lá ele a catalogar seus livros de Literatura, e eu a ler os meus de poesia. E ele se deparou com uma obra de um poeta romântico em que havia duas estórias editadas no mesmo livro. E o estudante não conhecia essas estórias. E o título de uma estava abaixo do título da outra. O estudante olhou, leu, pensou e finalmente entendeu: “Ahhh!!! Macário é o nome da taverna!!!” E eu ri demaaaais da conta como mineirinha. Ele não sabia... Mas ele não sabia, porque mora em Mariana. E Mariana não é romântica, é barroca.
            Mariana tem as quatro estações bem definidas e as quatro estações em apenas um dia. É como se elas quisessem se fundir em um dia só para virar uma coisa que só tem aqui.
            Em Mariana tinha trem. Mas agora não tem mais. Mas vai ter de novo um trem novo que parece velho. E as pessoas vão poder passear no trem novo que parece velho de propósito. Na cidade grande as pessoas andam de trem velho que parece velho, mas que deveria ser novo. E em Mariana o trem é novo, mas deveria ser velho. Deveria ser o velho que ficou novo, e não o novo que vai ficar velho. Mas também tem trem de trem mesmo uai!
            E tem uai, e tem trem, e tem sô, e tem pão de queijo, e tem estórias, e tem muita gente andando no centro da cidade sem pedir licença, sem pedir desculpas e conversando na calçada bloqueando o caminho de quem está com pressa. Porque o desconfiômetro e os bons modos em Mariana também são barrocos.
            Mariana tem magia quando olhamos a lua grande amarela das sacadas do casarão. Mas de manhã ela vai embora depois do funk na praça com aquele tanto de lixo no chão. Mariana é paradoxal.
            Mariana se fosse só por Mariana, ela estaria vazia e silenciosa e parada no tempo. Talvez ela quisesse ser assim, por isso é tão triste. Mas Mariana não vive só por ela, vive para o povo. Então Mariana é por marianense, por estudantes, por turistas, por trabalhadores, por viajantes, por andarilhos.
            Por Minas.

5 comentários:

  1. Mariana é um trem doido demais da conta. Mas vale a pena! Muito massa o texto, Julia!

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  2. Muito bom seu texto, meu bem! Você tinha me contado a história do livro, ficou muito bom! Esse é antigo, né? Bjão

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  3. Custou, mas conheci o seu Blog. Parabéns. Gostei bastante!

    Oh, Mariana!

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