Um livro na escuridão

    São pequenos gestos como este que fazem a vida ser grande. Muitos, como eu, sabem a importância de um livro ao nosso lado. E da mesma forma, de um gesto como este. Uma viagem de muitos quilômetros que marca raros encontros e a lembrança singela de levar consigo um livro, na expectativa de fazer a amiga passar bons momentos com ele... Este foi o pequeno grande gesto de uma pessoa linda, que teve a delicadeza de, não só indicar a leitura de um livro, como também, na primeira oportunidade, colocá-lo em minhas mãos.

   Estava na cisma de ler Saramago. Mas, apesar de ser absurdamente bom, é uma leitura pesada, difícil de manter a sequência. Mas como estava cismada, não conseguia pensar em outra coisa para ler. 

   Fazia já muito tempo que alguém não me dava tão boas recomendações. Fui eu quem estudou Literatura, mas quase tudo o que leio de melhor vem sempre da amiga. O recomendado foi um romance de José Luís Peixoto, conterrâneo de Saramago, entitulado "Uma casa na escuridão". Uma prosa poética muito bem escrita, profunda, envolvente, encantadora. Causa um leve estranhamento de início, mas apenas de início, pois logo já nos sentimos comovidos pelas sensações e impressões da estória... e logo começamos a sentir a presença de gatos ao redor. 

   São pequenos gestos que fazem a vida ser grandiosa. E essa grandeza pode estar na ponta de uma caneta... nas páginas de um livro... numa relação de amizade.